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Todo mundo odeia o Chris, menos o Oscar.


"Quero me desculpar com a Academia, quero me desculpar com todos os meus colegas indicados..." Foram algumas das palavras de Will Smith após estourar de raiva e dar um tapa na cara de Chris Rock, no Oscar.


Chris, no meio da cerimônia, resolveu debochar da falta de cabelo de Jada, a mulher de Smith, que sofre de uma doença autoimune. Chris já havia zombado do casal, em 2016, por não comparecer ao Oscar daquele ano, minimizando as movimentações que levavam a hashtag #OscarSoWhite na internet.


E não só nos tapetes vermelhos o comediante faz piadas de forma cruel. Isso é mais que apenas o seu ofício. O mesmo se estendeu quando Smith, ao dar feliz aniversário para a mãe de um dos seus filhos pelo Instagram, teve de ler o seguinte comentário irônico de Rock, novamente provocando: “Uau. Você tem uma esposa muito compreensiva”.


A atitude impensada do astro (Smith), ontem, me trouxe à mente muitas reflexões. A primeira delas é a polarização nos discursos dos espectadores. Vejo uma enorme parcela de pessoas apenas condenando a atitude de Will, sem querer entender o cenário caótico e desrespeitoso de longa data que antecede o ocorrido, enquanto outra parcela simplesmente concorda dizendo que faria muito pior. Assim, nos discursos divididos entre "violência gera mais violência" e "eu faria muito pior", parece que todos se esqueceram de cobrar o gigante por trás disso: a Academia.


Enquanto mulher e também enquanto irmã de um rapaz que vi ser ridicularizado uma vida inteira inclusive por um professor meu em sala de aula por ter síndrome de Down, eu jamais apontarei o dedo pra Smith. Eu o vi ter a atitude defender a sua esposa (o que aquece, sim, um coração ferido), apesar de entender que essa não é a melhor forma, isso não está certo, nem é um exemplo a ser dado. Mas isso é só o que eu penso num contexto em que muitos opinam.


O questionamento, porém, que as pessoas não estão fazendo é: como, em pleno 2022, uma cerimônia como o Oscar permite que uma mulher doente (e, por consequência, a sua família) passe por um constrangimento de virar piada para todo o mundo assistir? Como não está sendo duramente cobrado um novo posicionamento da Academia para as próximas cerimônias? De que adianta um evento exigir tanta elegância e sofisticação em suas vestimentas se o que ele entrega é escárnio e humilhação na sua forma mais cruel?


É claro que um tapa não resolve toda essa situação, nem todos os socos do mundo, em meio a risos sem graça que Will proferiu antes de revidar a Chris, mas a pergunta é: por que alguém precisa ser atacado e ridicularizado para os outros rirem? Como as pessoas não estão exigindo mais do que apenas tweet mal elaborado (e, na minha visão, bem hipócrita) da Academia afirmando que não aceita violência? Por que este não é o assunto mais comentado, sendo que há mudanças urgentes a serem feitas?


O Oscar pode não aceitar que revidem com violência física, mas é um evento que não só aceita aceita violência como a mascara por trás de frases prontas. Ou humilhar uma mulher que perdeu os cabelos para uma doença não é violento? Ou diminuir as pessoas de forma tão primitiva é o que há de mais sofisticado no entretenimento?


Se todo mundo odeia o Chris, por que também não odeia o Oscar?






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