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Filme de Priscilla Presley: bom ou ruim?


Baseado na autobiografia Elvis and Me, de 1985, o filme conta com roteiro e produção executiva da própria Priscilla e direção de Sofia Coppola. Encantador por vários aspectos, discreto demais por outros.

LADO BOM


Priscilla é um filme lindíssimo em termos de fotografia. Colorida em tom pastel, mostra a menina se descobrindo mulher, numa intensidade menos colorida que a cinematografia do filme Elvis, de Baz Luhrmann. Os quadros destacam a protagonista sozinha, elucidando bem sua solidão, ao passo que Elvis está sempre preenchido nos quadros filmados, cercado de muita gente e muito barulho. É a atenção voltada para ele.


A diferença de altura entre os dois atores também foi muito bem explorada. Priscilla parece uma criança ao lado de Elvis, fazendo com que a altura curiosamente reforce a diferença de idade existente entre o casal (Priscilla tinha 14 e Elvis 24 anos).

O trabalho de cabelo e maquiagem que marcam a passagem de tempo de Priscilla antes, durante e depois de Elvis merecem não só destaque, mas também premiação. Impecavelmente bem feito para um orçamento reduzido, Sofia Copolla entrega tudo na direção, na crescente da Priscilla menina tornando-se a Priscilla mulher. A química cênica dos atores principais também surpreende, bem como a forma sensível com que a narrativa apresenta os pais da protagonista relutando ao "entregá-la" a Elvis, à época tão mais velho que ela.

O desconforto e inquietude da atriz Cailee Spaeny nos prendem, bem como a cena agoniante de ela se arrumando para ir ao hospital, mesmo em trabalho de parto. A escolha da trilha sonora da obra, por sua vez, completamente feminina, foi uma saída muito inteligente diante dos percalços enfrentados com a empresa que administra as canções do cantor, que não as liberou para o filme. E, ainda sobre melodias, ter escolhido como música de encerramento I Will Always Love You, de Dolly Parton (que nunca gravou com Elvis, devido a problemas com Tom Parker, mesmo com o Rei tendo querido muito) foi um lindo desfecho do destino. Ou melhor, do cinema. Existe MUITA qualidade e, de modo algum, diria para não assistir ao filme, apesar do seu...


LADO ESQUECIDO


Se no filme de Buzz Lurmann temos um Elvis nobre e bondoso, como citei na minha crítica aqui, neste temos o lado manipulador, agressivo, doentio e controlador dele.

A obra se assemelha mais à outra face de Elvis do que à história de Priscilla, pois deixa de retratar os grandes feitos dela após sair de Graceland. Priscilla, a mulher que Elvis não deixava trabalhar, foi quem salvou o nome dele e transformou todas as suas memórias e dívidas em fortuna. Diferentemente do que muitos pensam, após a morte do cantor, quem reascendeu o seu nome foi ela, por meio da casa, Graceland, que só é retratada no filme enquanto o casal vivia junto. Como a parte mais icônica da carreira de Priscilla não é nem citada no filme cujo título é o seu próprio nome?


A filha do casal, Lisa Marie Presley, retratada no filme, falecida em janeiro de 2023, que se envolveu com Michael Jackson e teve a história, em certos aspectos, muito parecida com a de seus pais (filha do rei do rock se casa com o rei do pop), a veracidade dessa relação da qual muitos desconfiavan e tantos aspectos tão interessantes que são quase como um raio cair duas vezes no mesmo lugar não são abordados, dando espaço no filme para mais do mesmo e lugar comum de pessoas com histórias nada comuns. Quem foi Priscilla após Elvis? Quem foi Lisa após Elvis? O filme não aborda nada após o fim do casal Presley, atrelando mais uma vez Priscilla apenas ao ex-marido, esmiuçando o relacionamento dos dois, mas não a história da atriz, mãe, avó, empresária e mulher.

A obra também pega leve na separação (que, na vida real, se assemelha mais à do filme Elvis, de Baz Luhrmann, do que da obra Priscilla, de Copolla), nas brigas do casal e no quão doentia era a manipulação e hipocrisia de Elvis Presley. Provavelmente seja para o público não desgostar dele, mas uma história dessa magnitude deveria ter sido mais verossímil, pois os relacionamentos abusivos e a clareza que temos sobre eles nos dias atuais devem ser demonstrados para serem pensados, independentemente do grau de consciência das pessoas ser reduzido naquela época. E o objetivo disso não é julgar o Elvis, mas apresentá-lo como o ser humano que era de fato, trazendo luz à "desromantização" de uma época em que relações de submissão feminina eram tão normalizadas.


NEM BOM, NEM MAU.


Os filmes Elvis e Priscilla se complementam, apesar do gosto de quero mais sobre a vida dos dois (principalmente da de Priscilla). Se o filme de Priscilla não cria heróis nem vilões, o de Elvis vilaniza (o Coronel Parker) muito bem. Curiosamente, a grande diferença de orçamento entre as duas obras não transparece quando assistimos a elas. Poder comparar também as diferentes atuações pros mesmos personagens nos filmes é enriquecedor, bem como as diferentes direções. Se em Elvis o ator principal tenta se assemelhar ao máximo ao cantor, em Priscilla a atuação e a voz é que entregam a alma do personagem (não as minúcias de sua aparência).


BOM OU MAU, AFINAL? Assisti ao filme ao lado de duas mulheres artistas e sensíveis. Em algum momento pensei que pudesse ser apenas eu que não me emocionei com a obra, mas fomos nós três, na verdade. O filme é lindo, mas raso no que tange à história de Priscilla. Até pelo título, esperamos mais da narrativa de sua vida. Poderia tranquilamente ter mais uma hora depois da cena final que não se tornaria cansativo. O ritmo é bom, a trilha sonora, o figurino, a fotografia… Mas, infelizmente, deixou a desejar na emoção e fez com que sigamos perguntando: quem realmente é Priscilla Presley?

Mesmo assim, Elvis é um filme bom; Priscilla também. Definitivamente bom. E eu, como boa adicta musical que sou, certamente veria aos dois de novo, de novo e de novo, apesar de tudo o que eu disse, procurando por um sabor especial e seguindo insatisfeita e faminta após não tê-lo encontrado. Yeah, I am looking for trouble, but I will always love you.

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