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Minha pior inimiga.

Mesmo tentando de todas as formas, algo me travava para escrever. Talvez fosse a sequela por causa dela... Que também deve existir em você.




No início eu achava clichê quando me diziam. Confiava nos instintos e conselhos vindos de sua parte. Depois fui percebendo por que ela se tornou a pior pessoa para mim. Afinal, confiar cegamente faz com que não detectemos quando há uma doença no caminho.


Muitas vezes as tragédias da vida humana fazem com que cresçamos tortos e desajustados. Em outras, faz com que incessantemente busquemos por cura, aprendizado e solução para sermos diferentes. Em outras mais, faz com que sejamos a mescla do desajuste com a vontade de se reajustar.


Cresci em um ambiente financeiramente confortável e mentalmente adoecedor. Assim como você, simplesmente nasci em um local (e alguns locais são menos saudáveis que outros). Independente de crenças pré-encarnatórias, eu sei que não escolhi ter a infância que tive, nem a adolescência que vivi. Você também não tem culpa de ter uma família que talvez não o compreenda, porque muitas vezes a psicopatia, a loucura e a maldade podem estar nos seus próprios pais.


Não lembro ao certo a idade que eu tinha quando a conheci. Talvez quatro anos... Mas ela se reaproximou na minha pré-adolescência. Talvez eu tenha dado tanto ouvido à sua "amizade" justamente por me sentir tão sozinha, acreditando cegamente que ninguém mais poderia me compreender. Confiando cegamente nisso, com esse poder, ela passou a reconhecer tudo aquilo de cruel e errado que me fizeram acreditar sobre mim. Sempre da forma mais doce e com a desculpa de que aliviaria a minha dor.


No início ela desculpava os meus surtos de raiva contra mim mesma (o que é compreensível em uma amiga), mas, depois, aos poucos... Notei que ela não nutria afeto real pela minha pessoa. Que tipo de amiga aconselharia você várias a se atirar na frente de um ônibus para, caso desse "certo", parecer um acidente aos olhos da sociedade? Que tipo de amiga ajudaria você a atentar de formas muito piores contra a sua própria vida? (formas essas que não descreverei por motivos de responsabilidade emocional com você)


Eu demorei muito pra entender que aquilo não era amizade. Não era amor. Não era cuidado. Era doença. Mas eu estava tão imersa nos traumas aos quais sobrevivi que não conseguia detectar, de forma alguma, que ela pudesse estar errada. Afinal, ela só queria me ver parar de sofrer, e entendia perfeitamente quão cansada eu estava da vida.


Mas eu tive um salto de lucidez. A terapia me ajudou a perceber isso. Por grande parte da minha adolescência, os remédios que eu tomava também. E aprendi que não existe maior prisão do que uma mente adoecida. Que aqueles anos de crescimento que mais se assemelharam a um torturador da minha liberdade passam. E que eu sou um indivíduo. À parte da minha família. À parte dos meus amigos. Com o único poder de escolha de tratar tudo aquilo que me feriu e ser diferente.


Isso me custou anos de terapia. Custará a minha vida toda (pois nem todo mundo recebe alta). E tudo bem. Isso é o de menos comparado ao que aguentei tanto, por tanto tempo, por tantos anos com ela por perto. Hoje em dia ela ainda volta, mas aprendi muitas formas de diminuir o seu poder, porque hoje eu gosto de mim.


Esse relato é pessoal.


A minha pior inimiga eu achava que se chamava Kênia, mas o verdadeiro nome dela é depressão.


Se você não sente mais vontade de viver, disque 188 e faça terapia.


Existem tratamentos gratuitos também. Confira alguns aqui: https://bit.ly/3DZMpRl


Acredite: vai passar. A estrada é longa, mas a gente sempre encontra um propósito pelo qual vale a pena viver.


Com amor, do mais profundo de mim para você.














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